Comunicar é dividir algo em comum. Aqui vamos apontar tendências e o que vem seduzido o mundo.
Em propaganda, publicidade, marketing e coolhunting.

De que fonte você bebe? Cannes ou SXSW?

O poder das pequenas transformações cotidianas, o equipamento que faz leitura 3D do movimento das mãos e o conceito de serendipidade.

Por Mauro Silva (*)

Logo após o Festival de Cannes do ano passado, o Meio & Mensagem organizou um evento para estudantes no Mackenzie, para o qual fui convidado a participar de um painel. Nessa noite expressei uma opinião que gerou uma certa controvérsia. Falei que, como criativo e planejador de comunicação, preferia observar o que acontecia no SXSW do que em Cannes. E expliquei minhas razões: olhar para o SXSW é como olhar para o futuro próximo e olhar para Cannes é como olhar para o passado. O primeiro é um evento caótico. O segundo é um evento linear. Ambos são muito bem organizados e muito úteis para ser um bom profissional de comunicação. Mas é aqui no SXSW que você enxerga além do mercado da propaganda e se alimenta das disciplinas que estão moldando o futuro. Enfim, é como viver em um futuro próximo por alguns dias (o evento acontece em Austin até 17 de março). 

Tiny habits

A primeira palestra que vi no dia foi do BJ Fogg, o cara que fez uma pesquisa sobre o que ele chama de behavior design (design de comportamento). Ele fez um estudo dos hábitos das pessoas e observou comportamentos que revelam que pequenos alterações de hábitos tem mais poder transformador do que grandes mudanças. Veja aqui o site dele.

Por que isso é importante para mim (e talvez para você):

Entender esse estudo e essa lógica contra-intuitiva é um passo na direção de entender melhor como conduzir projetos de comunicação que venham a construir transformações verdadeiras. Essa visão extrai a ingenuidade e coloca um layer técnico em todo o pensamentos estratégico. Acredito que quem assimila isso tem melhor capacidade de chegar em ideias relevantes.

 

Dez dedos, duas mãos e um enorme salto?

Outro painel interessante foi com os fundadores da empresa chamada Leap Motion (www.leapmotion.com), que está lançando o Leap Motion Controler, um pequeno gadget que está na etapa de pré-compra (vai custar US$ 79,99). Eles apresentaram o produto e a sua visão de como as pessoas podem interagir com computadores sem usar mouse ou touchscreens. O produto deles faz uma leitura 3D das mãos do usuário (e de quaisquer apetrechos que essa pessoa estiver usando) e faz com que esses movimentos captados sejam traduzidos em comandos. Interessante é que tem precisão tanto para pequenos quanto para grandes movimentos. Então isso acaba sendo algo que pode ter usos muito variados e até surpreendentes.

Por que isso é importante para mim (e talvez para você):

Eu sinceramente ainda não sei. Mas acho que, em algum momento, essa tecnologia vai surgir na minha cabeça e poderá ser um ingrediente interessante na composição de um projeto de comunicação. Está ligado a serendipidade, ou seja, algo de bom pode acontecer para aqueles que estiverem atentos e lerem os sinais. Afinal, cada inovação tecnológica gera um novo universo de possibilidades. 

 

Serendipidade

Ano passado existiram diversos painéis sobre esse conceito que é um dos mais importantes da atualidade (entenda um pouco sobre isso aqui). Esse ano ele não foi tema de muitas palestras, talvez por já ter sido assimilado pela comunidade que vem ao evento. Mas ele vem com todo peso quando o diretor geral do evento, Hugh Forrest, sobe no palco principal e invoca o comportamento que ele acredita ser o mais desejado. A orientação que ele dá é a seguinte: “Abandone seus amigos. Aproxime-se de estranhos. Converse com eles e permita-se ser surpreendido. O SXSW tem tudo a ver com serendipidade”.

Por que isso é importante para mim (e talvez para você):

Quem trabalha com comunicação sabe o valor de ter o comportamento de esponja, que nos permite assimilar muita coisa e criar repertório vasto para então usar de forma criativa. Pois entender e viver na serendipidade é uma forma mais evoluída de ser uma esponja. Não se trata apenas de assimilar conhecimento. Trata-se também de se colocar em situações que não necessariamente tem algo exato para ser extraído, mas que, por algum motivo impensável, talvez possa trazer algo realmente novo e surpreendente. Acho que isso tem um valor enorme para todos que estão envolvidos com pensamento criativo e inovação.

(*) Mauro Silva é vice-presidente de planejamento e criação da LiveAD. Ele está com a equipe da agência em Austin, acompanhando o SXSW, e escreve como colaborador para o Meio & Mensagem.

 

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